Eu conseguia ver e ouvir tudo, a
professora tentou fechar meus olhos, mas não conseguiu, minhas pálpebras
estavam petrificadas, congeladas. O barulho da sirene me assustava, eu estava
dentro de uma ambulância, os paramédicos chegaram à conclusão de que eu não
estava morto, mas pra mim isso era óbvio. Eu sabia que não estava morto.
-Os batimentos estão acelerando.
Disse um enfermeiro que estava ao meu lado.
-Aplique a injeção. Retrucou uma
Doutora.
Uma injeção foi aplicada no meu
braço, não senti absolutamente nada. Eu odeio injeções. De repente meu corpo
começou a esquentar, eu sentia que estava derretendo, literalmente.
-Ele está suando muito Doutora. A
temperatura do corpo está aumentando. Disse o enfermeiro.
-Ótimo, é um bom sinal. Respondeu
a Doutora, secamente.
-Doutora, ele está “jorrando”
suor. Retrucou o enfermeiro.
Acho que a palavra “jorrando” foi
perfeita para aquela ocasião, eu parecia ter acabado de sair do banho, estava
molhado da cabeça aos pés. Mas eu não sentia que estava suando, não era normal.
A parte boa é que eu estava conseguindo recuperar meus movimentos, consegui
olhar para o lado e ver a professora Isabel sentada:
-Graças a Deus! Você está vivo!
Quando consegui abrir a boca o
que saiu foi um “berro”. –Aaaaaaah! Todos tomaram um susto. É angustiante
tentar falar e não conseguir.
-Acalme-se garoto, você precisa
descansar. Disse a Doutora, com um tom
de voz agradável.
-O que aconteceu professora? Onde
estão todos? Perguntei, assim que recuperei o fôlego.
-Seus amigos estão bem Zackarie,
não pude ver todos, mas o diretor está resolvendo a situação. Disse a
professora, ainda limpando as lágrimas em seu rosto.
Fiquei aliviado ao saber que
todos estavam bem, e logo adormeci. Mas a verdade é que não era bem assim que
as coisas estavam.
***
Quando acordei, estava numa cama
de hospital, a minha frente estava meu pai, Robert, estatura mediana, sempre de
calça jeans e camisa pólo, cabelo bem cortado, barba feita, e sua fala tão
natural quanto ele próprio:
-Ei, garoto. Até que enfim. Como
está se sentindo?
-Oi, pai. Estou bem, mas estou
com um pouco de sono.
-É, acho que você não dormiu o
bastante, dois dias não foram suficientes.
-O quê? Dois dias? Perguntei
assustado.
- É. Os médicos disseram que era
normal, por causa dos fortes medicamentos. Você teve hipotermia, convulsões, e
perdeu uma quantidade absurda de líquido. Os médicos disseram que seu caso é
estranho, mas que você está estabilizado.
Meu pai era o tipo de cara que
não escondia nada, era bem direto, acho que se eu fosse morrer, ele diria ali,
naquele exato momento. Fiquei aliviado de não o ouvir dizendo isso.
-Bom, a verdade é que me sinto
ótimo. Eu disse ainda tentando assimilar as coisas.
Alguns segundos depois a porta
rangeu, e a figura da minha mãe apareceu. Assim que me viu acordado ela
disparou:
-Querido! Você está bem? O que
fizeram com você? Como puderam ser tão irresponsáveis? Vou processar aquele
colégio! Onde está doendo?
-Mãe! A senhora está me
sufocando!
-Desculpe querido. Graças a Deus!
-Eu estou bem, mãe.
Minha mãe é uma ótima pessoa, se
chama Suzan, ela é costureira, morena, cabelos curtos, lisos, está sempre de
vestido. Ela me trata como um bebê, se ela pudesse me carregaria no colo, iria
comigo em todos os lugares, e me faria passar mais vergonha do que já costuma
fazer.
-Querido, seus amigos estão lá em
baixo. Eles querem vê-lo.
-Ah, legal. Eu também quero muito
vê-los.
- Vamos descer e chamá-los aqui, Suzan. Disse
meu pai.
-Tudo bem, mas daqui a pouco eu
volto pra ficar com você, viu querido?
Minha mãe me deu um beijo na
testa e saiu abraçada com meu pai. Alguns minutos depois Joshua entrou no
quarto, ele estava acompanhado por mais duas pessoas, uma delas era Elisa, uma
surpresa bastante agradável, a outra era Sammy Carn, o namorado de Elisa, uma surpresa
não tão agradável. Sammy era um cara esnobe, ele pouco se importava com os
outros, só olhava para o próprio nariz, e se ele se aproximava muito de alguém,
é porque queria alguma coisa. Não sei por que uma garota como a Elisa gosta de
um cara como esse.
-Você nos assustou. Disse Joshua,
parecendo um pouco incomodado.
-Que bom que você está melhor
Zackarie. Disse Elisa.
-Oi pessoal. Respondi.
Sammy apenas acenou para mim com
a cabeça, e foi olhar a paisagem pela janela do quarto.
-Quem ia imaginar que uma simples
aula de biologia fosse causar tanto estardalhaço, hein. Eu disse, tentando
puxar um assunto.
-Pois é cara. Disse Joshua.
Joshua era um cara de poucas
palavras para assuntos mais sérios, mas ele realmente não parecia estar muito
bem.
- Alguns funcionários do colégio,
e outros colegas também tiveram alguns problemas de saúde. Disse Elisa,
tentando desenvolver algum diálogo.
-Sério? Então aquela coisa toda
foi mesmo muito grave.
Acho que essa frase foi meio
estúpida, mas foi o que me veio à cabeça.
- Ô carinha, o que aconteceu foi
sinistro, os ratinhos do Doutor estavam cuspindo fogo. Disse Sammy, com uma
indiferença que só ele tem.
Eu sorri, meio sem jeito, sem
entender a “piada”. Joshua olhou para Elisa, ela retribuiu o olhar, e o quarto
ficou em silêncio.
-Espera aí pessoal. Vocês não
querem me dizer que os ratos estavam realmente cuspindo fogo, literalmente
cuspindo fogo, não é? Eu sorri.
O silêncio continuou.
- Elisa. Vamos embora, tenho
coisas pra fazer. Disse Sammy.
-Certo, vamos. Respondeu ela.
Elisa se despediu de mim e saiu,
Sammy foi direto em direção a porta.
-Joshua, o que está acontecendo?
Que história é essa de rato que cospe fogo?
-Cara, é isso mesmo. Depois da
explosão, uns três ratos do Dr. Lynder apareceram cuspindo fogo. Foi uma
correria...
Antes que ele terminasse de
contar eu o interrompi:
-Joshua, você está maluco! Isso
não faz sentido algum. Onde está o Plínio? Porque ele não veio com vocês?
Ele ficou em silêncio por alguns
segundos, depois abaixou a cabeça e falou:
-Plínio está desaparecido. Depois
da explosão ninguém mais o viu.
-Como assim desaparecido? Como
isso pode ter acontecido, estava todo mundo ali!
-Mas foi isso que aconteceu,
Zack. Ele sumiu, sumiu. Muita coisa estranha aconteceu depois daquela explosão,
depois daquele dia, inclusive...
Joshua foi interrompido por um
enfermeiro que entrou na sala.
-Senhor, o horário de visitas
terminou.
-Mas... Tentei iniciar um apelo.
-Não Sr. Miller, regras são
regras.
Joshua se despediu de mim, e saiu
acompanhado pelo enfermeiro.
***
Na manhã seguinte, recebi alta,
eu estava com meus pais. O médico disse que eu deveria continuar repousando e
que poderia tomar analgésicos, caso sentisse dores. Eu estava preocupado com
meu amigo, ele estava desaparecido a quatro dias.
- Pai, vocês tiveram alguma
notícia do Plínio?
-Não Zack, a polícia está
investigando o caso, mas por enquanto não obtiveram resultado.
-O que será que aconteceu?
Perguntei para mim mesmo.
Ao chegar em casa, fui recebido
por Nestor, meu cachorro, um vira-lata bagunceiro que gosto muito. Comi alguns
biscoitos que mamãe havia feito, e fui tomar banho. Era um dia quente, coloquei
o chuveiro no frio, e entrei em baixo. Eu não conseguia parar de pensar nos acontecimentos,
no desaparecimento de Plínio. Que história era aquela de ratos que cospem fogo?
O que Joshua queria me falar?
Comecei a sentir um frio na
barriga, mas não era um frio na barriga comum, era realmente frio. Minha
barriga estava queimando por dentro. Imagine suas mãos dentro de um congelador
durante alguns minutos, agora imagine a dor, o frio dentro de você. O que eu
sentia era pior. Não resisti, e gritei.
-Aaaaaaaaaaaah!!!
Meu corpo começou a ficar gelado,
de repente, minhas mãos começaram a endurecer, quando tentei fechá-las, algo
estralou. Era gelo em minhas mãos, a água do chuveiro estava passando para o
estado sólido. Minha mão liberava alguns flocos petrificados. Eu estava criando
gelo. Saí debaixo do chuveiro e o coloquei no quente, estendi as mãos e subiu
muita fumaça, coloquei o meu corpo inteiro na água quente, aos poucos fui
voltando ao normal, e caí ajoelhado. Eu estava envolto por uma cortina de
fumaça dentro do banheiro da minha casa. Aquilo parecia névoa.
-Zack. O que está havendo, você
está bem? Minha mãe perguntou junto a porta do banheiro
- Estou sim mãe, foi só um
pequeno surto. Estou feliz por estar em casa. Dei uma risada forçada.
-Termine logo este banho, estou
fazendo suco.
- Certo, mãe.
Fui para o quarto, não sabia o
que pensar. O que foi aquilo? Vesti uma bermuda, uma camisa, e quando eu estava
descendo, ouvi um barulho da janela do meu quarto. A princípio eu ia deixar pra
lá, mas uma pedra atingiu minha janela, fui em direção a ela. Abri, e ouvi a
voz de Plínio.
- Zack! Ajude-me!
-Plínio? Onde está você?
- Estou aqui em baixo.
Eu realmente não conseguia ver.
-Desce aqui! Disse ele.
-Espera, estou indo.
Desci as escadas em disparada,
minha mãe perguntou alguma coisa que não entendi. Cheguei à lateral de minha
casa, logo abaixo da janela do meu quarto.
-Plínio, onde você está?
-Aqui. A voz dele estava ao meu
lado, ele me tocou.
-Mas o que é isso? Plínio?
-Zack, eu preciso de ajuda. Estou
invisível.
Continua...
10 comentários:
Gelo... Invisibilidade...
Cadê o Professor Xavier??? kkkkk
zuêra...
A história continua num bom ritmo...
Aguardo cenas do próximo capítulo...
E novamente ele para na melhor parte... Okay vou tentar me acostumar com isso.
Mas eu jurava que o Plínio tinha se transformado nos ratos que cospem fogo... É, não tem lógica eu sei, minha imaginação é mto fértil.
E concordo com o comentário de Gustavo. Aguardo o contato do professeo Xavier. beijos
Ei!
To curtindo muito!
beijo
Pô velho, gostei muito. Eu queria ter o poder da invisibilidade, sempre foi meu sonho. kkkkkkkk
Vlw aí galera. Tem que ter um pequeno suspense né pessoal. haha.
Terça que vem tem mais, espero que gostem. Continuem acompanhando.
Haha... muito bom!
Vamos ver... eu também achei que alguém iria cuspir fogo, mas pelo visto estava enganada...rs
Olha, me surpreendi. Gostei muito, espero que o ritmo da história permaneça assim. Pode dar um ótimo livro.
Aguardo as próximas cenas.
Olha, me surpreendi. Gostei muito, espero que o ritmo da história permaneça assim. Pode dar um ótimo livro.
Aguardo as próximas cenas.
Legal, cara! Continue postando, ao contrário de Gustavo, estou esperando o Wolverine :P
Gostei. :D Amanhã venho ver o 3.
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