Eu não podia acreditar
no que estava acontecendo, há alguns minutos eu estava parecendo um
freezer, agora eu conversava com um amigo invisível.
-Zack, eu não sei o
que fazer. Será que vou ficar assim pra sempre?
Eu não sabia pra onde
olhar, por isso tentei tocar seus ombros pra ter uma referência, e
para acreditar naquilo, claro. Assim que o apalpei, falei:
- Tenha calma, Plínio.
Vamos pro meu quarto. Venha comigo, segure na ponta da minha camisa
para que eu saiba onde você está.
Plínio não disse
nada, apenas senti sua mão segurando minha camisa. Ao entrar em casa
deparei-me com minha mãe.
-Ei, rapazinho. O suco
está pronto, venha beber.
-Agora não mãe,
depois eu bebo.
Nesse momento Nestor
começou a latir desesperadamente para Plínio.
-Nestor! Para com isso!
Ande, já pra fora! Repreendi o cachorro.
O que houve com esse
cachorro? Perguntou minha mãe.
-Sei lá, ele deve
estar querendo brincar. Respondi de imediato.
Nesse momento subi as
escadas correndo, com Plínio atrás de mim, segurando minha camisa.
Chegando ao quarto Plínio desabou em minha cama, pude ver o forro se
movendo.
-Plínio, porque você
não apareceu para seus pais? Perguntei.
-Isso não é hora pra
fazer piada Zack! Plínio respondeu nervoso.
-Desculpe, não foi a
minha intenção. Não pude segurar o riso.
Respirei um pouco e
resolvi começar de novo:
-Cara, a polícia está
te procurando, seus pais devem estar muito preocupados. Ninguém sabe
onde você está.
-Zack, eu acordei
instantes atrás. Quando me dei conta, já estava assim.
- Como assim, você
acordou a instantes atrás? Onde você estava?
-Eu estava estirado no
chão, a poucos quarteirões do pátio do colégio.
Eu estava apreensivo.
Eu já tinha os meus próprios problemas, e agora isso.
-Ok. Vamos deixar esse
assunto de lado, momentaneamente. Diga-me uma coisa, como você está
se sentindo?
-Eu estou nervoso Zack!
Como você acha que deveria estar me sentindo? Disse ele num estado
histérico.
-Calma cara! Eu também
passei por algo parecido! Você tem que ficar calmo! Gritei com ele,
demonstrando todo o meu nervosismo.
Nesse momento acho que
Plínio ficou sem reação, pois eu não conseguia sequer ouvir a sua
respiração, que a aquela altura era muito forte.
-Desculpe Zack, você
não tem culpa. Disse Plínio, agora com um tom de voz ameno.
-Não cara, eu é que
tenho que me desculpar. Mas, escuta... Tudo o que você tem que fazer
é se concentrar. Respire fundo, imagine que você está normal.
Relaxe.
Eu pude ouvir a
movimentação do meu amigo, ele sentou-se na cama. Ficamos em
silêncio por uns dez minutos, quando de repente minha mãe chegou
próximo ao meu quarto.
-Zackarie, o que você
está fazendo?
-Eu não...
Antes que eu pudesse
terminar de responder minha mãe entrou no quarto, eu não havia
trancado a porta.
-Mas... O que você
está fazendo aqui, Plínio? Minha mãe perguntou espantada.
***
-Sra. Suzan. A Senhora
está me vendo? Plínio perguntou com um sorriso no rosto.
-Mas é claro que sim.
Que pergunta estúpida é essa, garoto? Seus pais estão loucos atrás
de você. Vou ligar pra eles agora mesmo.
Olhei para Plínio, e
lá estava ele com a mesma roupa do dia da aula de biologia. Sujo, e
com uma leve mancha roxa na camisa. Ele respondeu para minha mãe:
-Certo Sra. Suzan. Diga
aos meus pais que estou aqui.
Minha mãe saiu
resmungando algumas coisas, levantando as mãos pra cima e
agradecendo. Ela não ia à igreja, mas era uma pessoa que tinha
muita fé.
-Plínio, o que você
vai dizer aos seus pais. Você não pode dizer a verdade.
-Não sei Zack. Eu vou
simplesmente deixar rolar.
***
Cerca de 30 minutos
depois os pais de Plínio chegaram. O Sr. Peter Custer era médico,
branco, baixo, cabelo de concha. Na verdade ele assemelhava-se muito
ao Plínio. A Sra. Gina Custer era uma mulher séria, usava óculos,
tinha uma pinta um pouco acima dos lábios, era uma mulher elegante.
-Meu filho! Onde você
esteve? A Sra. Gina não podia segurar o choro.
Plínio e seus pais
ficaram abraçados durante alguns minutos, todos choravam. Eu estava
ao lado dos meus pais, que assistiam a cena e pareciam colocar-se no
lugar deles, pois de vez em quando colocavam suas mãos nos meus
braços, e apertavam levemente.
Depois de algum tempo,
o Sr. Peter agradeceu aos meus pais, e disse que iriam levar Plínio
a um hospital:
-Obrigado Robert,
Suzan. Não temos como agradecer. O que vocês fizeram não tem
preço.
-Deixa disso Peter, não
fizemos nada. Qualquer pessoa faria a mesma coisa. Meu pai respondeu.
-De qualquer forma,
estamos em dívida com vocês. Vamos sair pra jantar qualquer dia
desses, por minha conta. Retrucou o Sr Peter.
-Se você insiste...
Plínio e seus pais
entraram no Sedan preto e foram embora.
***
Já haviam passado sete
dias depois do acontecimento no colégio, acordei um pouco atrasado
para a primeira aula de biologia pós-explosão. Eu já estava me
acostumando a acordar com a ponta dos dedos congelados, de vez em
quando eu até molhava a cama, isso estava me deixando frustrado.
Quando desci para tomar café meu pai estava sentado à mesa, ouvindo
o noticiário na rádio. Ele seguia este ritual todas as manhãs.
-Ontem
coisas estranhas aconteceram na Cidade de Lumus. Algumas lojas
pegaram fogo no meio da noite, e três pessoas foram encontradas
mortas, junto à praça central, com vários arranhões pelo corpo,
uma delas teve o braço decepado.
-Essa
cidade está de pernas pro ar. Disse meu pai.
Eu peguei uma maçã,
tomei um gole de suco de laranja, e saí correndo para não me
atrasar ainda mais para a aula.
Assim que cheguei à
sala de aula esbarrei em Elisabeth Tompson. Ela é a irmã mais velha
de Elisa. No máximo dois minutos mais velha. Elas são gêmeas.
Fisicamente são muito parecidas, mas suas personalidades são
totalmente diferentes. Elisabeth tem cabelos negros, essa é a maior
diferença física das duas, talvez a única para os mais distraídos.
-Olha por onde anda,
garoto!
-Desculpe Elisabeth,
não vi você.
-Droga! O que você
está esperando? Eu quero passar.
-Desculpe. Cheguei um
pouco pro lado e dei passagem para ela.
Um pouco mais a frente
estavam Plínio, Joshua, e Alice, uma colega nossa que adorava
praticar esportes. Tênis de mesa era seu jogo favorito. Ela era
descendente de japoneses, eu suponho. Ela tem olhos puxados, cabelo
curto, escorrido, tem todas as características dos orientais.
-Que entrada triunfal.
Disse Joshua, irônico.
-É. Eu gosto dessas
coisas. Respondi.
-Bom dia, Zackarie!
Alice me cumprimentou.
-Bom dia, Alice! Bom
dia, sumido! Brinquei com Plínio.
-Que engraçado! Plínio
respondeu sem dar muita atenção.
- Ei, pessoal. Onde
está a professora Isabel? Numa hora dessa eu deveria estar tomando
uma bronca por chegar atrasado.
-Ela ainda não chegou.
Acho que não vem hoje. Disse Alice.
-É estranho. A
professora Isabel nunca chega atrasada, muito menos falta. Plínio
falou coçando a cabeça.
Joshua estava com uma
rosa azul na mão, ele estava tirando todas as pétalas da flor.
Quando retirou a última pétala começou a arrumar suas coisas.
Nesse momento o diretor do Colégio apareceu na sala de aula.
-Atenção! Disse ele,
enfático.
O diretor era um homem
alto, magro, tinha uma voz grave. Todos o conheciam como Sr.
Willians.
-A professora Isabel
não avisou a direção sobre qualquer coisa, por isso, não temos o
que fazer com vocês. Vocês estão liberados para voltar pra casa.
De antemão, aviso que na semana que vem vocês terão um novo
professor de biologia, por causa dos recentes acontecimentos aqui na
escola. Estão todos liberados.
Assim que o diretor
saiu houve um grande reboliço, todos os alunos manifestavam-se de
alguma forma. Alguns comemoravam o dia sem aula, outros reclamavam
pelo fato de que teríamos um novo professor, outros simplesmente não
esboçavam nenhum tipo de sentimento, esse foi o caso de Sammy, ele
estava entretido com uma moeda, que corria entre os seus dedos.
Joshua pegou sua mochila, e foi saindo.
-Galera, até a
próxima. Disse Joshua num tom de despedida.
-Aparece lá em casa
mais tarde Josh. Eu e Zack estaremos esperando. Disse Plínio.
-Estaremos? Perguntei.
- Você tem alguma
coisa importante pra fazer?
-Não, tudo bem. Eu
estarei lá. Respondi
-Valeu, mais tarde dou
uma passada lá. Joshua respondeu andando.
Eu e Plínio nos
despedimos de Alice, e depois de Elisa com um aceno, ela estava do
outro lado da sala, e provavelmente iria pra casa com seu namorado.
Fomos andando, Plínio e eu sempre íamos embora juntos, até metade
do caminho, quando nossas direções tornavam-se opostas.
-O que será que
aconteceu com a professora? Eu não queria que ela fosse mandada
embora. Falei com sinceridade.
-Eu não sei, é muito
estranho ela não ter aparecido. Ela nem avisou. Gosto muito dela,
espero que o diretor não tenha dito a verdade.
Já estávamos a alguns
metros do colégio quando Plínio me chamou a atenção.
-Zack, olhe!
- O que foi?
-Tem alguma coisa
naquele beco.
Nós estávamos em
frente a um beco sem saída, que tinha uma grande lata de lixo, e uma
pequena árvore ao fundo, plantada entre o cimento.
-Deve ser algum
cachorro, ou coisa do tipo.
Nós já tínhamos
passado do beco quando Plínio resolveu dar uma última olhadinha.
Ele colocou a cabeça no canto da parede do beco.
-Zack, aquilo não é
um cachorro!
Eu resolvi voltar e dar
uma olhada também.
-Onde? Não tem nada
ali Plínio.
-Estava ali agora
mesmo, eu juro. Disse Plínio, inconformado.
-Venha, vou te mostrar.
Deve ser só um vira-lata.
Entramos no beco em
passos lentos, Plínio olhou pra mim com certa apreensão. Eu não
entendia o porquê, e estava achando aquele momento meio ridículo.
Chegamos próximos a lata de lixo.
-Está vendo Plínio,
não tem nada aqui. Falei tentando empurrar a lata de lixo com os
pés.
Plínio olhou para mim,
e ficou imóvel.
-O que foi Plínio?
Parece que viu um fantasma, não tem nada aqui, cara. Vamos embora.
Plínio estava
começando a me assustar, de repente ele começou a desaparecer, ele
estava ficando invisível.
-Plínio, o que é isso
cara?
-Zack, atrás de você!
Quando olhei para trás
foi como se eu estivesse num pesadelo. Abaixado junto aos meus pés
estava um ser estranho, era um monstro. Tinha as unhas gigantes,
roupa rasgada. Tinha o corpo coberto de sangue, dentes pontiagudos,
grandes, afiados. O monstro estava estraçalhando um braço humano. O
monstro era uma fêmea na verdade. Usava roupas femininas, tinha
cabelos pretos, estavam totalmente bagunçados, mas dava pra perceber
que era uma mulher.
-Meu Deus, o que é
isso? Perguntei assombrado.
Tentamos nos afastar,
mas assim que demos o primeiro passo para trás o monstro pulou por
cima de nós e nos cercou.
-Zack, olhe! Plínio
falou com metade do corpo invisível.
-O quê? Eu não estava
com cabeça pra prestar atenção em nada. Ao contrário de Plínio,
que prestava atenção em tudo, em todos os momentos.
-Você não está
reconhecendo? Perguntou ele, com a voz trêmula.
- Reconhecendo o quê,
Plínio? Pelo amor de Deus!
-O monstro Zack, o
monstro! É a professora Isabel!
Continua...
12 comentários:
"Eita porra!"
Foi a primeira coisa que veio em minha cabeça ao terminar de ler... rsrss...
Muito bom cara...
Aguardo as próximas cenas...
Nossa Plínio é um cagão. kkkkkkkkkkk
Gostei posta logo o próximo. xD
"Eita porra!" [2]
Muito bom cara, com certeza é muito melhor do que certas coisas que circulam por aí. Isso tem futuro!
Vou indicar pra quem eu puder. Pena que agora só semana que vem. rrsrsr
Abç
:O Surpreendente! é o que eu tenho a dizer!! Será que ela vai "almoçar" os meninos??rs
Muito bom!
VISHH "Eta porra" ³
Porque logo a professora foi virar monstro? Será que as mutações tem algo a ver com a personalidade da pessoa?
Aguardemos os próximos capítulos...
Legal, cuiroso pra saber os rumos da história.
Tá ficando cada vez melhor, curioso para o próximo capítulo
A professora??????????
Que mania de parar nessas partes que que deixa a gente curioso.rsrsrsrsrsrsrsrs
poha... desconfiava da professora...
ta muito massa...
ansioso para prox terça!
Muito bom, Juninho. Já disse e repito, isso dava história em quadrinhos. Aguardo a continuação.
Vlw ai galera!! Obrigado pelos elogios=D
Vai saber hein Poli..hahaha. Pode ser que sim, pode ser que não.
quando essa greve acabar a gente conversa Val. ;)
Continuem acompanhando. Terça tem mais um capítulo.
Abçs.
Assim não vou estar viva para ver os próximos capítulos, kkkk. É muita curiosidade.
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