Adaptation:Capítulo 6

O homem estava lá, com uma faca cravada no meio do seu corpo. Ele tinha uma boa estatura, estava sem camisa, de bermuda, tinha uma pele pálida, talvez porque estivesse morto. Plínio não conseguia se mover, ele acabara de tirar a vida de um homem. Joshua tentava levantar Plínio. A casa estava de pernas pro ar. O sofá estava quase bloqueando a passagem da sala para o corredor da cozinha, uma estante estava caída com várias taças quebradas no chão, que por sinal estava ensanguentado. Eu estava sentado no chão, foi o único movimento que consegui fazer depois da pancada que levei, mas principalmente porque eu também estava congelado, assim como Plínio, por mais irônico que seja. Foi a primeira vez que vi uma pessoa morrer, e o meu melhor amigo foi um dos protagonistas daquela cena horripilante.

-Vamos P, temos que tirar esse corpo daqui.

-Eu sou um assassino Josh. Eu matei um cara! O que meus pais vão dizer quando chegarem.

-Eles não vão dizer nada. A gente tira o corpo daqui, e quando eles chegarem diremos que um ladrão invadiu. O que não é uma completa mentira.

-E esse sangue? E a polícia? Minhas digitais estão por aí, Josh! Já estou preparado, serei preso. Plínio começou a soluçar, e chorou desesperadamente.

-Você nos salvou P. Ele ia nos matar. Joshua abraçou Plínio

Olhei para Joshua, e o olhar dele não era o olhar confiante e despreocupado que ele sempre tinha no rosto. Ele parecia estar derrotado com aquela situação, mas não queria demonstrar. Levantei-me e fui em direção ao corpo. Respirei fundo e segurei nos braços daquele pobre homem que outrora havia tentado nos matar.

-Me ajude Josh. Vamos levar lá pra fora. Falei.

-Certo.

Joshua segurou as pernas do morto, e juntos levantamos o corpo, que parecia pesar uma tonelada. Chegamos na frente da casa, e de certa forma sabíamos que não tínhamos o que fazer, não tínhamos como explicar um homem morto com uma faca cravada no abdômen. Mas quando eu achava que as coisas não podiam piorar... Ela nos viu, e foi se aproximando. Sua cabeça movimentava-se de forma estranha, como se ela tentasse controlar um impulso. A professora Isabel estava surpresa com aquela cena, ela viu que seus alunos estavam carregando um morto.

***

-É assustador! O que é isso? A professora perguntou tentando não olhar para o homem que agora estava no chão.

-Professora, não é o que você está pensando. Nós estamos apenas... Este homem... Ele... Tentei explicar.

-Ele era mais uma mutação?

A pergunta da professora nos pegou desprevenidos.

-Não...

-Zackarie, não precisa esconder. Eu sei que vocês sabem de tudo, e que inclusive também passaram por mutações. Eu ainda estou tentando me lembrar de algumas coisas, mas sei que você e Plínio me viram...

-Transformada. Joshua completou.

-Isso. A professora cerrou os punhos, e estava travando o pescoço.

-Joshua! Ele não quis ofender, professora. Você apenas...

-Zack, está tudo bem. Eu... Eu posso ajudar vocês. É isso que importa. O cheiro... O cheiro desse homem é muito delicioso... Deixem-no comigo, é o melhor para vocês. Posso fazer ele desaparecer. A professora olhou para o homem e seus olhos mudaram. Suas unhas começaram a se transformar em presas afiadas.

A vontade de vomitar foi instantânea, depois das palavras “cheiro” e “delicioso” na mesma frase, naquela situação. Joshua olhou para mim, e naquele momento sabíamos o que fazer. Demos alguns passos para traz, e deixamos a professora Isabel com o corpo. Ela rapidamente se apossou daquele homem.

- Precisamos nos encontrar em outra situação. Disse a professora.

-Não precisa ter pressa. Joshua respondeu.

A professora colocou o corpo do homem sobre os ombros, passou a língua nos lábios e começou a correr incrivelmente rápido.

- Ainda temos uma bagunça para arrumar, Joshua.

-Vamos.

***

-Plínio, onde você está? Precisamos de sua ajuda aqui!

-Vou olhar lá em cima. Disse Joshua.

Procurei Plínio por todos os lugares, não encontrei. –Plínio! Eu sei que você está por aqui. Precisamos de você, sua mãe deve estar chegando. Joshua desceu as escadas.

-Ele não está lá.

Assim que Joshua acabou de falar a Srª Gina chegou.

-Eu também quero sumir! Falei

-Vamos deixar rolar. Disse Joshua, calmamente.

A Srª Gina foi aproximando-se da porta apressadamente.

-Plínio! Cadê você? Meninos! Vocês estão bem? Oh, Graças a Deus! Onde está Plínio?

-Nós não...

-Estou aqui mãe. Plínio falou saindo da cozinha, limpando lágrimas dos olhos.

- O que aconteceu aqui? Precisaram do seu pai no hospital. Não param de chegar feridos por lá. Está uma loucura. As pessoas estão em pânico. Fizeram algum mal a vocês? A Srª Gina estava espantada com a bagunça na casa.

-Entrou um homem aqui, mãe. E... Eu...

-Nós nos escondemos. Interrompi. –Quando ouvimos o barulho corremos para o quarto e nos trancamos. Parece que eram uns arruaceiros, bêbados, ouvimos muitos barulhos, e ficamos com medo.

-Oh, meu Deus! Preciso ligar para a polícia!

-Não! Disse Joshua. –Quer dizer... Não precisa. A polícia os espantou, acho até que os perseguiram. Está tão tumultuado que nem vão ligar pra uma simples invasão de baderneiros, Srª Gina. O importante é que estamos todos bem, não é mesmo?

-É verdade! Agora preciso da ajuda de vocês para tampar esse buraco na janela. Venham aqui, um abraço coletivo, venham!

Fomos à direção dela e nos abraçamos. Logo depois fomos ao depósito da casa, e pegamos uma grande tábua de madeira para tampar o buraco da janela. Depois de apoiarmos coisas para tampar o buraco, subimos e fomos dormir.

Eu e Joshua arrumamos nossos colchões em silêncio, Plínio estava deitado, e parecia uma estátua.

-Plínio, você ainda não percebeu que é um herói? Você realmente nos salvou. Falei

Ele nem piscou.

- Qual é cara? Vamos lá, pára pra pensar um pouco.

-Acho que é isso que ele está fazendo, Zack. Disse Joshua em seu tom insuportável.

Plínio deu um sorriso de canto.

-Sou um homem e tanto. Matei um homem antes de perder a virgindade. Plínio falou.

-É mesmo. Falei. -Um homem e tanto... Espera ai... Você tinha dito que havia... Aquela menina...

-Mentira.

-Eu desconfiei desde o princípio. Quem é que transa com uma garota só por ter tirado vírus no computador dela? Disse Joshua.

-Foram muitos vírus cara! Eram como as pragas divinas. Aquele computador estava mesmo doente. Ela deveria ter ficado muito grata. Plínio defendeu-se.

-Ok. Isso foi demais pra mim, tenho que dormir. Não se pode mais confiar em histórias amorosas de nerds.

-Vai à merda Zack!

Todos rimos. E apesar de tudo, apesar de ter vivido mais um dia de cão, com coisas absolutamente inacreditáveis, aquele momento com meus amigos compensou tudo.

***

Acordamos cedo, a Srª Gina fez questão de nos lembrar que teríamos aula. Tomamos café na cozinha que já estava quase arrumada, e fomos para o colégio. Chegamos e encontramos nossos colegas. Iríamos ter aula de matemática, o que seria um verdadeiro porre. Sentamos na mesma fileira, e ao nosso lado estava Alice.

-Oi meninos, como estão? Disse ela.

-Beleza.

-Tranquilo.

-E ai?

-Estão dizendo por aí que as aulas serão suspensas por tempo indeterminado. Por causa de algumas coisas que estão rolando por aí. Contou Alice.

-Sério? Perguntou Plínio, que adorava conversar com Alice.

-Sim, e ao que tudo indica, este aviso será dado hoje. Disse Elisabeth, entrando na conversa.

Elisabeth era linda, afinal de contas ela era irmã gêmea de Elisa. Ela estava de calça jeans, blusa preta, e usava tons escuros de maquiagem. Eu confesso que tinha receio de conversar com ela.

-Bom, se for pra acontecer isso espero que essa aula de matemática seja suspensa também. Disse Joshua, que sempre atraia os olhares femininos.

A maioria concordou. Elisa chegou na sala e sentou-se perto de nós, coisa que a muito tempo ela não fazia.

-Bom dia, gente!

Todos a cumprimentaram.

-Ei maninha, cadê o “esquentadinho” do seu namorado? Perguntou Elisabeth.

Elisa olhou pra ela com cara de poucos amigos, e depois se virou. Logo depois Sammy chegou, e sentou-se ao lado de dois colegas no canto da sala. Longe de onde estávamos. Ainda estávamos esperando o professor chegar quando Sammy aproximou-se:

-Elisa, preciso falar com você.

-Não tenho nada pra falar com você, Sam.

-Por favor, vamos lá garota. Eu preciso... Vem.

Todos estávamos observando aquela situação.

-Não. Eu não quero! Elisa respondeu enfática.

-Vamos lá...

-Ela não está afim cara, deixa ela. Interrompi.

-Como é que é? Ninguém te chamou aqui “mané”. Fica quietinho aí. Disse Sammy.

Olha quem resolveu abrir as asinhas! Disse Elisabeth, com uma dose extra de sarcasmo.

-Vem, Lisa! Ele a segurou pelo braço fazendo menção de puxá-la.

Assim que foi tocada no braço Elisa assustou-se, como se aquele local estivesse ferido. Percebendo aquilo acabei me levantando por impulso.

-Você não vai querer se meter nisso, Zackarie. Disse Sammy, num tom ameaçador.

-É melhor você ir pra seu lugar, Sammy. Retruquei.

Os amigos de Sammy aproximaram-se e ficaram atrás dele. Sammy me deu um empurrão e esbarrei na cadeira, Joshua levantou-se e ajudou-me. Os amigos de Sammy começaram a rir, e percebi que minha camisa havia ficado chamuscada no local onde Sammy tocou. Joshua tomou a frente e o encarou. Olhei para Elisa e percebi o que havia acontecido. Provavelmente o namorado dela havia machucado seu braço. Toquei o ombro de Joshua e falei:

-Calma aí Josh. Acho que vou ter que esfriar os ânimos de alguém aqui.

Continua...