Adaptation: Capítulo 14

Não sei como não havia percebido isso antes. Quando passamos no pedágio antes de entrar na Cidade do Oriente tive uma sensação estranha quando aquele homem disse o nome da professora. Isabel Olivar.

-Tenho certeza, Zackarie! Repetiu Elisabeth.

-Não sei o que dizer. Respondi. –Mas temos que sair daqui.

-Plínio, não saia de perto do Joshua. Disse Elisabeth. –Vou mostrar uma coisa pra esses caras.

Continuei a criar neblina, quase não havia visibilidade no ambiente.

-Vamos ficar juntos, não faça nada sem pensar, Elisabeth. Disse Joshua.

-Acho que eu não precisava estar invisível agora. Disse Plínio.

De repente as pedras começaram a zumbir. Elas passavam muito perto de onde estávamos. Fui atingido na perna direita.

-Aaaaaaaah!

-Zack!

Elisabeth ficou em minha frente como um escudo humano.

-Zackarie, pare com essa névoa, está sendo uma faca de dois gumes.

Antes que Elisabeth pudesse terminar de falar, uma forte ventania começou, e a névoa desapareceu rapidamente. Um dos homens de terno balançava os braços, e rajadas de vento vinham em nossa direção.

-Mas o que é isso agora? Perguntou Plínio.

-Andem garotos, não sejam teimosos. Não queremos machucá-los. Disse o homem.

-Ângelo, eu estava gostando de atirar as cegas.

-Você não precisa ficar com toda a diversão, Artur.

-Parem de discutir besteiras. Vamos levar esses moleques. Disse um terceiro homem, cuspindo no chão.

-Cuidado, Nicolas. O Dr. Disse que não devemos matá-los.

***

Eu temia enfrentar aqueles homens. Não conhecia aquela cidade, por isso não sabia para onde ir. A saída da cidade era relativamente distante para sairmos de pé, e de qualquer forma, não poderíamos simplesmente chegar na estrada e pedir carona. Pensei em correr, mas sabia que não conseguiríamos escapar, principalmente porque tinha dúvidas se Joshua aguentaria correr depois de ter gastado tanta energia. O único jeito era enfrentá-los.

-Vamos lutar. Falei.

Joshua colocou a mão no bolso e pegou algumas sementes.

-Josh, não. Por favor. Nós cuidaremos deles.

Elisabeth não esperou, e prontamente partiu pra cima de Artur. Ele lançou uma pedra incandescente, e ela rebateu com um soco. Plínio passou por mim invisível, e acertou um soco em Ângelo. Corri na direção de Nicolas, que era bem mais alto que eu. Tentei acertar um chute, mas passei no vazio. Criei luvas de gelo em minhas mãos, e quando fui acertá-lo, ele deu uma pequena cuspida em minhas luvas. Não era um cuspe comum, era ácido. O gelo derreteu assim que entrou em contato com o líquido.

-Garotos, é melhor se entregarem. Disse Nicolas.

Minhas mãos estavam superficialmente queimadas. Elisabeth se dava bem na luta contra Artur. Ele precisava de distancia para arremessar suas pedras, mas Elisabeth não permitia que ele se afastasse, o fazendo desviar de uma sequencia de golpes que ela aplicava. Em um dos golpes ela acertou o carro da professora, quebrando um dos vidros. Plínio não estava tão bem, mas tinha um bom desempenho na luta. Apesar de não poder vê-lo, sabia que ele se escondia em algum lugar para escapar dos golpes de Ângelo. O homem tentava descobrir a posição de Plínio, mas só conseguia quando era golpeado, e Plínio se afastava novamente, sendo empurrado pelo vento, ou se escondendo.

-Porque estão fazendo isso? Qual é o objetivo disso tudo? Perguntei.

-Entreguem-se e descobrirão. Respondeu Nicolas.

Criei novas luvas de gelo, e tentei a sorte. Ameacei dar um soco e ele prontamente cuspiu na direção dos meus punhos, mas dei um giro para o lado oposto e acertei sua cabeça com a parte lateral de minha mão. No mesmo momento senti uma forte dor na perna direita. O local onde fui atingido por uma das pedras de Artur latejava. Nicolas ficou enfurecido com o golpe que apliquei.

-Você fez sua escolha, pirralho!

O homem respirou fundo, e se preparou para dar uma grande escarrada. Afastei-me e lancei um ar frio na direção dele, mas parece que apenas o refresquei. Ele disparou uma grande cuspida em minha direção, desviei-me por pouco, sua saliva fez um enorme buraco no chão.

-VIVOS NICOLAS, VIVOS! Gritou Artur, de longe.

Fiquei aterrorizado. Se aquilo tivesse me acertado eu teria me transformado em Zack derretido.

-Eles já passaram do limite, Artur.

Nicolas começou a cuspir em minha direção, eu desviava com dificuldade, minha perna doía cada vez mais. De repente ouvi Plínio gritar. Elisabeth tentou segurar Artur, mas quando o tocou ele queimou seus braços. De repente percebi que aqueles homens não estavam lutando pra valer. Eles queriam nos capturar, e estavam apenas brincando conosco. Ficamos encurralados.

-Já terminei minha parte. Disse Ângelo.

Plínio não estava mais invisível. Ângelo o carregava nos ombros, desmaiado.

-PLÍNIO! Gritei desesperado e parti em disparada na direção do meu amigo, mas logo fui impedido com um duro golpe de Nicolas. Caí.

Elisabeth recuou com seus braços completamente queimados. Artur brincava com uma pedra incandescente na mão. De repente, quando Nicolas vinha me pegar, Joshua veio em minha direção e soprou uma grande quantidade de pó no rosto deo meu adversário.

-O que é isso? Agora você é a fada Sininho? Disse Nicolas, bocejando imediatamente.

-Está na hora de dormir, neném. Respondeu Joshua.

O homem começou a ficar sonolento, mas continuou andando. Joshua virou-se para Artur, e rapidamente o homem arremessou uma pedra, acertando o ombro de meu amigo. Ele caiu ao meu lado.

-Josh!

-Zack...

Elisabeth correu até nós e tentou nos levantar, mas àquela altura era difícil pensar em alguma coisa positiva. Estávamos perdidos. Artur arremessou mais uma pedra, Elisabeth conseguiu rebater.

-Amigos, me desculpem. Disse Elisabeth, chorando.

-Tivemos uma ótima aventura. Respondi com um sorriso de canto.

De repente uma caminhonete velha veio em disparada até o local onde lutávamos. Um homem negro de meia idade dirigia o veículo que parou dando uma rasgada de pneus. De repente o homem olhou para mim e disse:

-Tapem os ouvidos!

Ele abriu a boca e começou a soltar um forte ruído. Um som terrivelmente fino parecia estar estraçalhando meus tímpanos. Todos colocaram as mãos no ouvido, mas não adiantava, o som era ensurdecedor. Artur e Nicolas caíram no chão. O homem veio até mim, e falou alguma coisa. Tudo que ouvi foi:

-Voiua teur iii iii ii ii ii ii

O homem colocou-me na caminhonete, depois pegou Joshua. Quando foi pegar Elisabeth ela tentou lutar.

-Rápido garota!

O homem a segurou e conseguiu colocá-la na caminhonete. Ele entrou no veículo e saiu rasgando pneu. Eu não tinha forças para fazer absolutamente nada. Não tinha como evitar o que estava acontecendo. Estava impotente. Abri os olhos e vi Joshua encostado no banco de trás junto comigo. Elisabeth estava na frente. O homem olhava para o lado e dirigia velozmente. Na minha cabeça apenas uma coisa importava. Plínio. Algumas imagens vieram a minha mente, os bons tempos que vivemos na infância, nossas vidas antes de tantas bizarrices, as trapalhadas que cometemos... Meu amigo ficou para trás, e eu mal consegui abrir a boca para dizer seu nome:

-Plínio...

Continua...