Adaptation: Capítulo 23

 

Elisabeth tentava se aproximar de mim, mas Cristian, que estava com o nariz sangrando, a impediu colocando-se no caminho. Marcus ainda tinha raios envolvendo suas mãos, e parecia estar preparado para usá-los a qualquer momento.

-Zack! Gritou meu pai, que conseguiu de algum jeito se livrar do pano que estava em sua boca.

Meu pai aproximou-se e encostou-se a mim, apesar de suas mãos ainda estarem amarradas, ele recebeu um pequeno choque, pois meu corpo ainda estava eletrificado.

-Pai, afaste-se. Falei meio desajeitado, minha língua parecia estar embolando um pouco.

-Você está cheio de energia, Zack. Disse Marcus sorrindo.

-Deixem minha família em paz seus cretinos! Esbravejou meu pai.

Fui me levantando devagar, olhei fixamente para os olhos de Marcus, ele aguardava ansiosamente para lançar mais um de seus raios. Me coloquei de joelhos, e continuei o encarando, ele cerrou os punhos como se estivesse tentando me intimidar. Consegui me colocar de pé, abri minhas mãos para formar gelo, Marcus se preparou para acertar mais um choque elétrico em mim, quando foi surpreendido. Cristian caiu em cima de seu companheiro, Elisabeth o lançou com uma força estrondosa, foi um baque enorme.

Elisabeth segurou os dois adversários que estavam no chão. Ela os arremessou perto de Stul e Sammy.

-Zackarie, você está bem? Perguntou Elisabeth ao meu lado.

-Como disse nosso amigo ali: estou cheio de energia.

-Pai, você está bem? Dei um forte abraço nele e desamarrei suas mãos.

-Não estou entendendo nada meu filho. O que estou vendo aqui? Pessoas com poderes malucos se atacando, e meu filho está no meio disso... Sua mãe, temos que ajudá-la.

-Pai, não temos tempo para explicar nada agora. Ou melhor, nós nem sabemos de nada. Vamos sair daqui primeiro, depois conversamos.

-Zack, você consegue se mover? Perguntou Elisabeth.

- Sim, acho que já posso fazer alguma coisa.

-Zack, nós não vamos dar conta de todos eles.

-Você não estava... De cabelos loiros? Perguntou meu pai.

-Eu? Elisabeth ficou meio sem jeito. – O Sr. Deve estar falando da minha irmã.

-Ah, sim. Desculpe-me. Sua irmã esteve lá em casa.

Uma bola de fogo caiu logo a nossa frente.

-Droga!

Sammy vinha em nossa direção. Ele estava transformando o galpão num verdadeiro inferno.

-Esse é o garoto que te procurou lá em casa, Zack. Disse meu pai se escondendo atrás de um barril.

-Eu já sabia! Falei. –Elisabeth, tire meu pai daqui, tentarei pegar minha mãe.

-Você só pode estar brincando. Você não pode ficar aqui sozinho. Disse Elisabeth.

-Eu não sairei daqui sem vocês. Disse meu pai.

-Protejam-se!

Mais uma bola de fogo quase nos acertou.

***

Estávamos escondidos atrás de umas ferragens.

-Sammy não deveria estar quase morto, Elisabeth? Perguntei.

-Com certeza! Não sei o que Stul está fazendo. Sammy parece estar perfeitamente normal. Respondeu Elisabeth surpresa.

Stul estava com as mãos sobre Marcus e Cristian.

-De qualquer forma ele está com Marcus e Cristian agora. Falei.

Elisabeth pegou uma grande barra de ferro e arremessou na direção de Sammy. Ele desviou, e lançou uma rajada de fogo em nossa direção. O fogo batia nas ferragens e causava um calor descomunal.

-Como esse desgraçado faz isso? Seus poderes parecem estar num estado avançado.  Pensei.

-Não podemos nos esconder o tempo todo. Falei.

Saí de trás dos ferros e lancei um ar congelante na direção de Sammy, ele lançou uma rajada fogo, e nossos poderes colidiram. Continuei a criar o ar gelado, tentei usar mais força. Sammy era constante, ele não parava de lançar fogo. Estávamos numa situação complicada, aquele que parasse de aplicar força levaria a pior. De um lado o fogo, do outro o gelo. Tentei me concentrar ao máximo para não vacilar, mas por um breve momento olhei para Stul e vi que ele se movimentava. Parecia ter concluído o que estava fazendo. Minha desatenção me prejudicou. O fogo que Sammy lançava estava superando o meu gelo. Talvez a própria vantagem natural do fogo sobre o gelo estivesse prevalecendo. O fogo estava quase me atingindo quando Elisabeth interferiu a meu favor. Ela correu com uma barra de ferro na mão, e antes que Sammy pudesse fazer alguma coisa, acertou sua perna o fazendo cair de joelhos.

-Seu imbecil! Gritou Elisabeth.

O ar congelante que eu lançava atingiu Sammy. Seu tronco congelou, e o olhar dele foi de desespero.

Elisabeth! Saia daí! Gritei.

Stul apareceu ao lado de Elisabeth. Com uma velocidade familiar.

-Olá pequena Hulk!

Stul esticou o braço e eletrocutou Elisabeth.

-Ha ha ha ha ha     

-Desgraçado!

Lancei um ar congelante no meu adversário. Ele desviou com facilidade. Consegui me aproximar de Elisabeth. Em nossa frente, o gelo que cobria uma parte do corpo de Sammy estava se desfazendo. O corpo dele provavelmente tinha uma resistência maior.

-Você roubou os poderes de seus aliados!

-Ha ha ha... Roubei? Não, de forma alguma. É bem melhor que isso, não sou uma pessoa tão ruim. Que impressão você tem de mim, picolé? Eu apenas copiei as células modificadas dos meus amigos. Nada mais que isso.

Fiquei sem reação. Não me lembro de alguma vez na vida ter sentido tanto medo quanto senti naquele momento. Apesar de ter passado por situações muito complicadas nos últimos tempos, eu estava realmente sem saída. As pessoas que eu mais amava estavam ali. Minha mãe ainda desacordada, imóvel, meu pai escondido, e Elisabeth, uma pessoa que aprendi a gostar. Todos estavam dependendo de mim, mas eu sabia que não tinha forças para ajudá-los.

-Por favor, Stul eu lhe imploro, não faça mal nenhum aos meus pais, ou a Elisabeth.

Marcus e Cristian se aproximaram.

-Tem alguma proposta para me fazer garoto?

-Esse idiota não serve pra nada, vamos acabar com ele! Interrompeu Sammy.

-Calado! Enfatizou Stul.

Olhei para Sammy com vontade de esmagar a cabeça dele. Ele tinha um olhar profundo, seus cabelos curtos bem cortados, e sua aparência angelical escondiam o que ele realmente era, um monstro.

***

-Elisabeth está disposta a se unir a vocês. Eu deixo que me levem até a polícia. Mas vocês devem manter meus pais em segurança.

-Você fala como se tivesse escolha, garoto.

-Eu...

-Você não pode falar pela pequena Hulk. Ela deve se pronunciar.

Stul levantou Elisabeth como se fosse uma sacola de lixo.

-Diga Pequena Hulk, o que você acha da proposta do seu namoradinho?

Elisabeth ainda devia estar zonza com o choque que levou.

-Responda!

-Vai pro inferno! Desgraçado!

Elisabeth tentou ajeitar o corpo para acertar Stul, mas cambaleou. Stul usou o pé para empurrá-la. Eu a segurei.

-Sua proposta foi recusada, Picolé. Disse Stul dando de ombros. -Mas você ainda pode se unir a nós, e nos deixar levar essa boca suja para a polícia.

-Não! Não faça isso meu filho. Interrompeu meu pai.

Meu pai apareceu com uma barra de ferro na mão.

-Pai, volte pra lá!

-Não! Ficarei aqui e lutarei ao seu lado. Não posso ver meu filho sendo subjugado, e tomando decisões para salvar a todos enquanto eu apenas observo.

-Pai, por favor!

-Zackarie Miller, eu tenho muito orgulho de ser seu pai.

Pai! Não!

Meu pai atirou-se com toda velocidade na direção de Stul, quando ele estava perto o suficiente para acertar o inimigo, foi surpreendido. Stul usou a velocidade e esquivou-se do ataque, logo em seguida acertou-lhe um soco nas costas. Meu pai cambaleou para frente, Stul mais uma vez usou a velocidade, e dessa vez acertou-lhe um chute forte no rosto. Lancei um ar congelante em Stul, mas Sammy interveio e bloqueou meu ataque. Cristian usou sua velocidade para me agarrar por trás. Marcus aproveitou-se da situação e me eletrocutou.

-Ahhhhhhh! PAI! PAREM! PAREM, POR FAVOR!

Meu pai sangrava. Stul segurou ele pela gola da camisa e o jogou ao meu lado.

-Eu juro que tentei garoto. Mas perdi a paciência.

  -Sammy, acabe com esse imbecil.

-Eu? Mas... Sammy gaguejou.

Fiquei ajoelhado no chão, Cristian me soltou. Olhei para meu pai, muito ferido. Stul pegou Elisabeth nos braços. Dei uma olhada para minha mãe, e de certa forma fiquei feliz por ela não estar vendo aquela cena. Sammy olhou para mim, ele não parecia estar totalmente confortável. Ele criou duas enormes bolas de fogo em suas mãos. Marcus e Cristian afastaram-se e seguiram Stul.

-Acabe logo com isso Sammy!

Sammy deu uma última olhada para mim e lançou as duas bolas de fogo em minha direção, mas para a surpresa dele, e infelizmente a minha, elas não me acertaram. Meu pai usou suas últimas forças e se atirou em minha frente. Sammy o acertou em cheio.

-NÃAAAAAO!!!

Meu pai caiu em minha frente. Seu corpo estava completamente chamuscado. Ele olhou no fundo dos meus olhos.

-Eu te amo meu filho. Se eu tivesse mais dez vidas, as daria em troca da sua sem pensar duas vezes. Graças a Deus você não se tornou um monstro.

-PAAAAAAAAAAAAI, NÃO, POR FAVOR PAI, FICA COMIGO! PAAAAAI!

Essas foram as últimas palavras do meu pai. Ali mesmo ele fechou os olhos, e apagou para sempre.

Levantei-me com uma força que surgiu de algum lugar. Eu era apenas ira. Não consegui medir ou controlar qualquer parte do meu corpo. Alguma força me fez levantar. Stul olhou para trás depois de eu ter arremessado uma barra de ferro em suas costas.

-VOLTEM AQUI SEUS DESGRAÇADOS! ESSE TAMBÉM SERÁ O TÚMULO DE VOCÊS! DE TODOS VOCÊS!

Continua...

Ilustração: Patrick A