terça-feira, 26 de março de 2013

Adaptation: Capítulo 27



Já havia amanhecido. Acordei no meu quarto, Joshua estava sentado numa cadeira perto da janela, e Elisabeth estava ao meu lado na beirada da cama, com uma toalha na mão. Meu corpo estava muito dolorido, e uma boa quantidade de água escorria dele. Elisabeth enxugava-me. Olhei de lado para Joshua e percebi que ele tinha o rosto apático, Elisabeth também estava abatida. Silenciosamente comecei a chorar, mas não era necessário fazer barulho para que meus amigos percebessem. Elisabeth me abraçou, e logo em seguida Joshua também veio, e ficamos ali, abraçados, chorando, sem dizer uma palavra sequer.
***

-Onde minha mãe está? Perguntei quebrando o silêncio.
-Ela está bem. Está dormindo. Respondeu Joshua.
- Foi uma dificuldade colocá-la pra dormir. Ela só foi depois de ter se certificado que você estava bem. Disse Elisabeth.
- Eu preciso vê-la. Falei.
- Calmo ai, bonitão. É melhor você descansar uma pouco mais. Alex e Cássio estão tomando conta dela. Argumentou Joshua
- Eu estou bem. Retruquei. – Não precisa se preocupar comigo.
Com muita dificuldade consegui ficar sentado na cama. Elisabeth me deu apoio para que eu pudesse levantar.
-Obrigado. Agradeci a Elisabeth. – Aliás, Josh, quem é esse Cássio, e onde vocês o conheceram? 
-Aparentemente Alex o treinou há pouco tempo atrás. São conhecidos. O encontramos num posto de gasolina reparando um carro.
-Sei. Tenho que agradecê-lo pela ajuda. Falei. –Elisabeth, me ajude a chegar até o quarto de minha mãe, por favor.
Elisabeth me apoiou em seu ombro e praticamente me carregou até o quarto. Quando entrei vi minha mãe dormindo. Era como se nada tivesse acontecido, ela aparentava estar muito tranquila.
-Elisabeth, pode me deixar a sós com ela?
-Claro.
Elisabeth me deixou sentado na cama junto a minha mãe, e saiu do quarto, deixando a porta fechada.
Fiquei ali imaginando o que eu poderia ter feito se estivesse em casa quando Stul a capturou. Meu pai não teria ido atrás dela sem saber o que estava acontecendo, e o pior não teria acontecido. Agora eu não sabia o que dizer pra ela, não tinha coragem de olhar diretamente em seus olhos. Naquele momento eu estava com vergonha de ser filho dela, de ter provocado tanto mal na vida de minha própria mãe. Depois de tantos pensamentos ruins, criei coragem e dei um beijo nela.
Ainda com muita dificuldade, levantei-me e fui andando vagarosamente até a sala. Desci as escadas apoiado no corrimão, e cheguei até os meus companheiros. Estavam todos lá: Joshua, Elisabeth, Alex e Cássio, apenas me observando.
- Você não deveria estar gastando suas energias por aí garoto. Disse Alex.
- Eu estou bem. Respondi.
Elisabeth veio até mim para ajudar.
- Não precisa... Estou bem, obrigado. Interferi.
-Acho que não foram formalmente apresentados: Zack este é Cássio, Cássio este é o Zack.
- E aí. Cumprimentei. - Obrigado pela ajuda na noite passada.
-Beleza. Ele respondeu.
- Cássio é meu sobrinho, e alguns meses atrás, descobri que ele havia adquirido o vírus. Então o treinei para que ele pudesse controlar seus poderes, e aparentemente ele vem se dando muito bem.
-Então você é tio dele? Perguntei.
-Sim. Respondeu Alex.
-Você disse que iríamos recrutar pessoas para o nosso grupo...
- Isso. Respondeu Alex rapidamente. Cássio, conte o que você havia dito antes.
-Ok. Durante minhas viagens me deparei com algumas “gangs”. Muita gente tem se organizado por motivos variados. Alguns por simples proteção, outros para praticar furtos, alguns donos de estabelecimentos tem contratado grupos para vigilância, entre outras coisas. O que posso dizer é que atualmente, andar sozinho não é uma boa ideia.
- E você andava sozinho? Perguntou Elisabeth.
- Gatinha, digamos que eu tenha conseguido me sair bem. Respondeu Cássio.
- Bom, o que eu posso te dizer... Se você não começar a me chamar pelo meu nome, é bom que esteja preparado para ter sua cara partida ao meio. Disse Elisabeth num tom ameaçador.
- É bom chamá-la pelo nome. Argumentei.
 Cássio passou a mão em seus cabelos e fez cara de desdém.
- Vocês não conhecem alguém que possa ter contraído o “vírus” junto com vocês? Perguntou Alex.
- Podemos tentar encontrar. Disse Joshua.
- Tenho uma coisa pra fazer antes. Falei.
- E o que seria? Perguntou Alex.
-Preciso enterrar meu pai. Falei.
Alex fez cara de preocupado.
-Zack...
Fui andando na direção da porta. Joshua prontamente veio atrás de mim, e Elisabeth veio em seguida.
-E voltar naquele lugar perigoso onde não sabemos o que pode estar lá. Nem pensar... Você está ficando doido. Disse Cássio.
-Ninguém está te convidando, cachinhos dourados. Falou Elisabeth.
-Vamos Cássio. Disse Alex.
- Mas que droga! Esbravejou Cássio.
***

Chegamos à entrada do galpão e uma sensação horrível tomou conta de mim. As marcar da nossa última batalha estavam estampadas pelo ambiente. Passamos pelo buraco que Cássio havia feito e logo tivemos uma visão horrorosa. Um ser estranho, peludo, com garras e dentes enormes, e com um estranho chifre, debruçava-se sobre o corpo inerte do meu pai.
-Cuidado! Alertou Alex.
O monstro nos viu e esboçou um ataque, mas Joshua prontamente fez crescer uma enorme planta carnívora que engoliu a aberração. O monstro ficou se debatendo, abriu alguns pequenos buracos na planta. Mas um grude amarelado não permitia que ele se libertasse.
- Meu pai. Falei completamente abatido.
Elisabeth me puxou rapidamente virando-me para o outro lado, mas eu já tinha visto o corpo do meu pai totalmente desfigurado.
- Não temos nada pra fazer aqui, Zack. Vamos pra sua casa.
Todos saíram do galpão.
Ficamos imóveis por algum tempo. Meus amigos falavam alguma coisa, mas não prestei atenção, até que Joshua me sacudiu.
-Zack!
-Vamos voltar. Disse Alex.
-Não. Interrompi. -Vamos começar a recrutar pessoas.
-Zack... Joshua tentou me interromper.
- Joshua, você lembra onde é a casa de Alice?
Sem saber ao certo que dizer Joshua olhou para os outros e Alex fez um sinal positivo com a cabeça.
-Sim Zack, não é muito longe daqui.
 Entramos no carro de Cássio e fomos para o leste. As ruas pareciam cada vez menos habitadas, e sempre que avistávamos algum veículo, ou alguma pessoa, ficávamos prontos para o pior.  Passamos pela praça da juventude que ficava bem próxima a casa de Plínio e de Elisabeth. Um pouco mais adiante, próximo a um pequeno mercado avistamos a casa de Alice que tinha um grande jardim na varanda.
-É ali. Apontou Joshua.
- Acham mesmo que ela pode ter algum tipo de poder? Perguntou Elisabeth.
- Não custa tentar saber. Respondi.
- Pode ser que custe disse Elisabeth. – Imagina se ela não tem, certamente vai ficar assustada.
- Temos que arriscar. Disse Joshua.
Descemos do carro e Joshua tocou a campainha. O portão estava trancado, e havia uma cerca elétrica no muro. Um gato apareceu na porta, e logo depois entrou para casa novamente. Em seguida, Alice apareceu. Ela estava descalça, vestia um short e usava uma blusa com um desenho estampado, sua aparência era a mesma de quando nos encontrávamos na escola. Seus traços orientais, seu cabelo preto, curto, na altura do ombro, liso. Ela parecia não ter mudado nada.
- Oi. O que vocês fazem aqui? Perguntou ela, com uma cara desconfiada.
- Viemos visitá-la. Respondi. – Como você está?
- Bem, eu acho. Ela respondeu. -Elisabeth? Quem são esses com vocês?
- São nossos amigos. Respondeu Joshua. – Alice, precisamos conversar.
- Estou ouvindo. Disse ela.
-Não podemos entrar? Perguntou Elisabeth.
- Na verdade, é melhor que fiquem aí. Alice respondeu secamente.
- Alice, por... Joshua tentou convencê-la.
-Alice. Interrompi. - Percebemos que você já sabe de coisas demais em relação ao que anda acontecendo ultimamente. Mas o que tenho a te dizer é: queremos ajudá-la, e precisamos de sua ajuda.
Alice afastou-se do portão.
-É melhor vocês irem embora, não posso ajudar em nada. Disse Alice, assustada.
- Alice, por favor! Implorei. –Confie em nós.
Um carro em alta velocidade passou por nós.
- Não podemos ficar aqui por muito tempo Zack, temos que ir. Disse Alex.
- Alice... Tentei mais uma vez.
- Vamos Zack. Disse Elisabeth segurando meu braço.
Olhei uma última vez para Alice, criei um cubo de gelo e mostrei para ela. Quando estávamos entrando no carro, Alice chamou.
- Ei, Esperem! Entrem, rápido.
Nos entreolhamos e fomos novamente até o portão. Alice o abriu com um controle.
- Se tentarem fazer alguma coisa comigo, irão se arrepender.
Entramos na residência. A sala era enorme, um sofá bonito, televisão gigante, um lustre que eu só costumava ver em cenas de filme, tapete de pele animal, uma estante cheia de livros. Alice ainda parecia estar desconfiada, mas até perguntou se não gostaríamos de sentar.
- O que vocês querem? Perguntou Alice.
Assim que ela perguntou, criei mais um cubo de gelo para mostrar meus poderes, e em seguida, Joshua fez brotar uma pequena flor. Elisabeth e os outros não fizeram demonstrações, pois não havia espaço para tal coisa. Alice pareceu gostar do que havia visto.
-Você tem algo que gostaria de mostrar Alice?
-Sem maldade. Disse Joshua, tentando ser engraçado.
Cássio que ainda não havia dito nada, riu.
- Calado Joshua! Reclamou Elisabeth.
- Afastem-se um pouco. Disse Alice.
Demos espaço para ela, e sem esperar muito, Alice pegou um pouco de ar, e pronto. Seu corpo começou a tomar uma forma totalmente diferente. Começou a encolher e criar pêlos, garras e dentes. Em poucos segundos Alice mudou de forma, ela rugiu. Todos tomaram um grande susto. Eu nunca tinha visto uma transformação de tão perto, e muito menos naquela velocidade. Alice transformou-se numa leoa bem em nossa frente.
- Gatinha? Perguntou Cássio.




Continua...


Ilustração: Patrick A

4 comentários:

Deborah Miranda disse...

Gente! Barril quadriplicado essa leoa aí viu!! Sabia que eles iam começar a recrutar pessoas com poderes fodásticos! Ansiosa pelo próximo integrante do exército mutante!! hahaha

Eddi Brito Dêda de Andrade disse...

Sinceramente não me embrava dessa Alice, e quanto ao Cassio eu não confiaria nele!Mas agora estou ancioso..., cê sabe..., esperar o próximo capitulo...

Saulo disse...

ALice... Nem lembrava dela.

Aguardando o prox.

Unknown disse...

logo, o(a) gato(a) que apareceu na porta era Alice?...muito bom essa técnica...será que ela pode se transformar em insetos também...ou animais pré-históricos??...curioso...
vamos recrutar, vamos recrutar!!!