Já havia amanhecido. Acordei no
meu quarto, Joshua estava sentado numa cadeira perto da janela, e Elisabeth
estava ao meu lado na beirada da cama, com uma toalha na mão. Meu corpo estava
muito dolorido, e uma boa quantidade de água escorria dele. Elisabeth
enxugava-me. Olhei de lado para Joshua e percebi que ele tinha o rosto apático,
Elisabeth também estava abatida. Silenciosamente comecei a chorar, mas não era
necessário fazer barulho para que meus amigos percebessem. Elisabeth me abraçou,
e logo em seguida Joshua também veio, e ficamos ali, abraçados, chorando, sem
dizer uma palavra sequer.
***
-Onde minha mãe está? Perguntei
quebrando o silêncio.
-Ela está bem. Está dormindo.
Respondeu Joshua.
- Foi uma dificuldade colocá-la
pra dormir. Ela só foi depois de ter se certificado que você estava bem. Disse
Elisabeth.
- Eu preciso vê-la. Falei.
- Calmo ai, bonitão. É melhor
você descansar uma pouco mais. Alex e Cássio estão tomando conta dela.
Argumentou Joshua
- Eu estou bem. Retruquei. – Não precisa
se preocupar comigo.
Com muita dificuldade consegui
ficar sentado na cama. Elisabeth me deu apoio para que eu pudesse levantar.
-Obrigado. Agradeci a Elisabeth.
– Aliás, Josh, quem é esse Cássio, e onde vocês o conheceram?
-Aparentemente Alex o treinou há
pouco tempo atrás. São conhecidos. O encontramos num posto de gasolina
reparando um carro.
-Sei. Tenho que agradecê-lo pela
ajuda. Falei. –Elisabeth, me ajude a chegar até o quarto de minha mãe, por
favor.
Elisabeth me apoiou em seu ombro
e praticamente me carregou até o quarto. Quando entrei vi minha mãe dormindo.
Era como se nada tivesse acontecido, ela aparentava estar muito tranquila.
-Elisabeth, pode me deixar a sós
com ela?
-Claro.
Elisabeth me deixou sentado na
cama junto a minha mãe, e saiu do quarto, deixando a porta fechada.
Fiquei ali imaginando o que eu
poderia ter feito se estivesse em casa quando Stul a capturou. Meu pai não
teria ido atrás dela sem saber o que estava acontecendo, e o pior não teria
acontecido. Agora eu não sabia o que dizer pra ela, não tinha coragem de olhar
diretamente em seus olhos. Naquele momento eu estava com vergonha de ser filho
dela, de ter provocado tanto mal na vida de minha própria mãe. Depois de tantos
pensamentos ruins, criei coragem e dei um beijo nela.
Ainda com muita dificuldade,
levantei-me e fui andando vagarosamente até a sala. Desci as escadas apoiado no
corrimão, e cheguei até os meus companheiros. Estavam todos lá: Joshua,
Elisabeth, Alex e Cássio, apenas me observando.
- Você não deveria estar gastando
suas energias por aí garoto. Disse Alex.
- Eu estou bem. Respondi.
Elisabeth veio até mim para
ajudar.
- Não precisa... Estou bem,
obrigado. Interferi.
-Acho que não foram formalmente
apresentados: Zack este é Cássio, Cássio este é o Zack.
- E aí. Cumprimentei. - Obrigado
pela ajuda na noite passada.
-Beleza. Ele respondeu.
- Cássio é meu sobrinho, e alguns
meses atrás, descobri que ele havia adquirido o vírus. Então o treinei para que
ele pudesse controlar seus poderes, e aparentemente ele vem se dando muito bem.
-Então você é tio dele?
Perguntei.
-Sim. Respondeu Alex.
-Você disse que iríamos recrutar
pessoas para o nosso grupo...
- Isso. Respondeu Alex
rapidamente. Cássio, conte o que você havia dito antes.
-Ok. Durante minhas viagens me deparei
com algumas “gangs”. Muita gente tem se organizado por motivos variados. Alguns
por simples proteção, outros para praticar furtos, alguns donos de
estabelecimentos tem contratado grupos para vigilância, entre outras coisas. O
que posso dizer é que atualmente, andar sozinho não é uma boa ideia.
- E você andava sozinho?
Perguntou Elisabeth.
- Gatinha, digamos que eu tenha
conseguido me sair bem. Respondeu Cássio.
- Bom, o que eu posso te dizer...
Se você não começar a me chamar pelo meu nome, é bom que esteja preparado para
ter sua cara partida ao meio. Disse Elisabeth num tom ameaçador.
- É bom chamá-la pelo nome.
Argumentei.
Cássio passou a mão em seus cabelos e fez cara
de desdém.
- Vocês não conhecem alguém que
possa ter contraído o “vírus” junto com vocês? Perguntou Alex.
- Podemos tentar encontrar. Disse
Joshua.
- Tenho uma coisa pra fazer
antes. Falei.
- E o que seria? Perguntou Alex.
-Preciso enterrar meu pai. Falei.
Alex fez cara de preocupado.
-Zack...
Fui andando na direção da porta.
Joshua prontamente veio atrás de mim, e Elisabeth veio em seguida.
-E voltar naquele lugar perigoso
onde não sabemos o que pode estar lá. Nem pensar... Você está ficando doido.
Disse Cássio.
-Ninguém está te convidando, cachinhos
dourados. Falou Elisabeth.
-Vamos Cássio. Disse Alex.
- Mas que droga! Esbravejou
Cássio.
***
Chegamos à entrada do galpão e
uma sensação horrível tomou conta de mim. As marcar da nossa última batalha
estavam estampadas pelo ambiente. Passamos pelo buraco que Cássio havia feito e
logo tivemos uma visão horrorosa. Um ser estranho, peludo, com garras e dentes
enormes, e com um estranho chifre, debruçava-se sobre o corpo inerte do meu
pai.
-Cuidado! Alertou Alex.
O monstro nos viu e esboçou um
ataque, mas Joshua prontamente fez crescer uma enorme planta carnívora que
engoliu a aberração. O monstro ficou se debatendo, abriu alguns pequenos
buracos na planta. Mas um grude amarelado não permitia que ele se libertasse.
- Meu pai. Falei completamente
abatido.
Elisabeth me puxou rapidamente
virando-me para o outro lado, mas eu já tinha visto o corpo do meu pai
totalmente desfigurado.
- Não temos nada pra fazer aqui,
Zack. Vamos pra sua casa.
Todos saíram do galpão.
Ficamos imóveis por algum tempo.
Meus amigos falavam alguma coisa, mas não prestei atenção, até que Joshua me
sacudiu.
-Zack!
-Vamos voltar. Disse Alex.
-Não. Interrompi. -Vamos começar
a recrutar pessoas.
-Zack... Joshua tentou me
interromper.
- Joshua, você lembra onde é a
casa de Alice?
Sem saber ao certo que dizer
Joshua olhou para os outros e Alex fez um sinal positivo com a cabeça.
-Sim Zack, não é muito longe
daqui.
Entramos no carro de Cássio e fomos para o
leste. As ruas pareciam cada vez menos habitadas, e sempre que avistávamos
algum veículo, ou alguma pessoa, ficávamos prontos para o pior. Passamos pela praça da juventude que ficava
bem próxima a casa de Plínio e de Elisabeth. Um pouco mais adiante, próximo a
um pequeno mercado avistamos a casa de Alice que tinha um grande jardim na
varanda.
-É ali. Apontou Joshua.
- Acham mesmo que ela pode ter
algum tipo de poder? Perguntou Elisabeth.
- Não custa tentar saber.
Respondi.
- Pode ser que custe disse
Elisabeth. – Imagina se ela não tem, certamente vai ficar assustada.
- Temos que arriscar. Disse
Joshua.
Descemos do carro e Joshua tocou
a campainha. O portão estava trancado, e havia uma cerca elétrica no muro. Um
gato apareceu na porta, e logo depois entrou para casa novamente. Em seguida,
Alice apareceu. Ela estava descalça, vestia um short e usava uma blusa com um
desenho estampado, sua aparência era a mesma de quando nos encontrávamos na
escola. Seus traços orientais, seu cabelo preto, curto, na altura do ombro,
liso. Ela parecia não ter mudado nada.
- Oi. O que vocês fazem aqui?
Perguntou ela, com uma cara desconfiada.
- Viemos visitá-la. Respondi. –
Como você está?
- Bem, eu acho. Ela respondeu. -Elisabeth?
Quem são esses com vocês?
- São nossos amigos. Respondeu
Joshua. – Alice, precisamos conversar.
- Estou ouvindo. Disse ela.
-Não podemos entrar? Perguntou
Elisabeth.
- Na verdade, é melhor que fiquem
aí. Alice respondeu secamente.
- Alice, por... Joshua tentou
convencê-la.
-Alice. Interrompi. - Percebemos
que você já sabe de coisas demais em relação ao que anda acontecendo
ultimamente. Mas o que tenho a te dizer é: queremos ajudá-la, e precisamos de
sua ajuda.
Alice afastou-se do portão.
-É melhor vocês irem embora, não
posso ajudar em nada. Disse Alice, assustada.
- Alice, por favor! Implorei.
–Confie em nós.
Um carro em alta velocidade
passou por nós.
- Não podemos ficar aqui por
muito tempo Zack, temos que ir. Disse Alex.
- Alice... Tentei mais uma vez.
- Vamos Zack. Disse Elisabeth
segurando meu braço.
Olhei uma última vez para Alice,
criei um cubo de gelo e mostrei para ela. Quando estávamos entrando no carro,
Alice chamou.
- Ei, Esperem! Entrem, rápido.
Nos entreolhamos e fomos
novamente até o portão. Alice o abriu com um controle.
- Se tentarem fazer alguma coisa
comigo, irão se arrepender.
Entramos na residência. A sala
era enorme, um sofá bonito, televisão gigante, um lustre que eu só costumava
ver em cenas de filme, tapete de pele animal, uma estante cheia de livros.
Alice ainda parecia estar desconfiada, mas até perguntou se não gostaríamos de
sentar.
- O que vocês querem? Perguntou
Alice.
Assim que ela perguntou, criei
mais um cubo de gelo para mostrar meus poderes, e em seguida, Joshua fez brotar
uma pequena flor. Elisabeth e os outros não fizeram demonstrações, pois não
havia espaço para tal coisa. Alice pareceu gostar do que havia visto.
-Você tem algo que gostaria de
mostrar Alice?
-Sem maldade. Disse Joshua,
tentando ser engraçado.
Cássio que ainda não havia dito
nada, riu.
- Calado Joshua! Reclamou
Elisabeth.
- Afastem-se um pouco. Disse
Alice.
Demos espaço para ela, e sem
esperar muito, Alice pegou um pouco de ar, e pronto. Seu corpo começou a tomar
uma forma totalmente diferente. Começou a encolher e criar pêlos, garras e
dentes. Em poucos segundos Alice mudou de forma, ela rugiu. Todos tomaram um
grande susto. Eu nunca tinha visto uma transformação de tão perto, e muito
menos naquela velocidade. Alice transformou-se numa leoa bem em nossa frente.
- Gatinha? Perguntou Cássio.
Continua...
Ilustração: Patrick A
Ilustração: Patrick A
4 comentários:
Gente! Barril quadriplicado essa leoa aí viu!! Sabia que eles iam começar a recrutar pessoas com poderes fodásticos! Ansiosa pelo próximo integrante do exército mutante!! hahaha
Sinceramente não me embrava dessa Alice, e quanto ao Cassio eu não confiaria nele!Mas agora estou ancioso..., cê sabe..., esperar o próximo capitulo...
ALice... Nem lembrava dela.
Aguardando o prox.
logo, o(a) gato(a) que apareceu na porta era Alice?...muito bom essa técnica...será que ela pode se transformar em insetos também...ou animais pré-históricos??...curioso...
vamos recrutar, vamos recrutar!!!
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